Desigualdade como tradição: uma Intersubjetividade da dominação
Resumo
Apesar da norma antirracista que caracteriza a modernidade, a colonialidade mantém-se nas sociedades contemporâneas através de várias formas de estruturalização e institucionalização do racismo. Esta hierarquia racial tem sido suportada por um sistema de crenças meritocráticas, de daltonismo social e acerca da superioridade moral das tradições e valores eurocêntricos, que permite, simultaneamente, defender a identidade branca e os seus privilégios e racionalizar e legitimar as desigualdades. Neste trabalho pretende-se discutir a forma como este sistema ideológico atua na interceção entre identidades brancas e não-brancas, operando o clivar e subalternizar das diferenças. Através de um estudo quantitativo e correlacional exploram-se as associações entre desigualdade, perceção de ameaça e racismo, explorando o efeito amplificador dos valores de dominância social, poder e conservadorismo. Serão apresentados dados recolhidos junto de 227 pessoas portuguesas e brancas (137, 69.6% do género feminino e 87, 35.5% do género masculino). Os resultados revelam que a experiência de desigualdade está associada à intensificação das expressões de racismo, através do aumento da perceção de ameaça face a grupos racializados, e que este efeito é amplificado pela adesão a valores de dominância social. Partindo destes resultados, discute-se a forma como a desigualdade permanece normalizada nas narrativas sociais dominantes, tirando partido de imaginários historicamente construídos, reproduzidos numa cultura hegemónica que mantém preconceitos racistas, xenófobos e classistas.
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Direitos de Autor (c) 2022 Joana Cabral, Manuela Rebocho, Ana Cristina Pereira
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