Uma vida para Maria de Jesus
um confessor em defesa de sua beata, diante do Santo Ofício de Lisboa (1700-1701)
Resumo
Este artigo se propõe a examinar as atitudes do arrábido fr. Masseu
de São Francisco, da Ordem dos Frades Menores de Portugal, diante do Santo
Ofício de Lisboa entre 1700 e 1701. Processado por obstruir os trabalhos do
tribunal, além de continuar a dar crédito e tornar públicas as visões e revelações
de sua confessada, a recém-falecida Maria de Jesus, duas vezes processada e
anteriormente condenada por embusteira pelo Santo Ofício, Fr. Masseu optou por
uma via de argumentação que unia sua defesa à defesa da memória daquela beata.
Para isso, em vez de se submeter a perguntas e enquanto durou a paciência dos
inquisidores, entregou-lhes, pouco a pouco, cadernos em que descrevia e justificava
suas virtudes, numa espécie de sequência constrangida do antigo plano de ver
redigida uma “vida” de Maria de Jesus em que constassem, reconhecidos como
verdadeiros, os favores e as mercês que por décadas ela disse receber do Céu.