Hagiografia(s) no século XXI
algumas leituras, difusas “visões” e breves interrogações
Resumo
É consensual entre investigadores de múltiplas sensibilidades
epistemológicas a afirmação de que a contemporaneidade, interpretada ora como
pós ora como hiper modernidade, se manifesta marcada por um conjunto muito
vasto de fenómenos socioculturais que não podem ser desconsiderados pelo
olhar atento do historiador e/ou hagiógrafo, latu sensu considerados. Entre tais
fenómenos, o advento da “Web 2.0/3.0” adquire particular relevo, concretamente
no que tal significa no quadro das vivências e expressões da espiritualidade/
religiosidade contemporâneas, cada vez mais enquadradas numa “religião (dita)
digital”. Assim, adotando a presente reflexão uma focalização hagiográfica de
tais fenómenos, pretende-se sublinhar tal influxo e aventar algumas possíveis
consequências desta crescente imersão no “mundo digital” por parte do homo
religiosus contemporâneo. Após uma inicial clarificação de conceitos tidos como
fundamentais à análise proposta, e onde se invocam os contributos de Zygmunt
Bauman, Gilles Lipovetsky e Pierre Lévy, apresentam-se de seguida alguns
“epifenómenos” – aqui considerados paradigmáticos – do referido influxo e que
apontam a uma consideração mais aprofundada. A terminar, e embora de modo
não exaustivo, elencam-se algumas das “interrogações” que o panorama descrito
suscita, particularmente no quadro de análise hagiográfica aqui proposto.