A artificialidade da língua em aula de língua portuguesa no Brasil
Resumo
O presente texto é resultado de pesquisa motivada pela inquietação das
autoras ante o fracasso escolar de crianças em fase de alfabetização. Para perceber se o uso que se faz da língua em sala de aula é artificial e se essa artificialidade pode estar contribuindo negativamente com o processo de ensino-aprendizagem, foi realizada pesquisa numa escola de ensino fundamental localizada em município do Estado de Goiás/Brasil, da rede privada de ensino. A investigação teve como objetivo principal compreender como se desenvolve o uso da língua em sala de aula de alfabetização, não apenas nas interações verbais entre professora e alunos, mas também no material didático adotado. A observação de 15 aulas procurou focalizar: a) o tipo de trabalho realizado pela professora com textos; b) o interesse demonstrado pelos alunos no trabalho com textos; c) o nível de leitura e produção de textos dos alunos; d) a metodologia utilizada pela professora no momento da leitura oral, feita por ela; e) a metodologia utilizada pela professora para a correção das produções orais e escritas dos alunos; f) a organização das aulas, para perceber se seguiam um esquema rígido, previamente planejado, ou se tomavam novos rumos a partir do interesse demonstrado pelos alunos; g) a interlocução em sala de aula. Essa aproximação com o campo permitiu que fossem realizadas, além das observações das aulas, conversas informais com outros membros da equipe educacional, como diretora, coordenadora e outras professoras. Essas observações foram registradas em um Diário de Campo, cujo conteúdo foi objeto de leitura, reflexão e análise por parte das pesquisadoras. A pesquisa de campo se deu por meio de visitas constantes durante um semestre letivo, e esporádicas por mais um semestre. Nessas visitas procurou-se apreender as práticas e concepções que permeavam o cotidiano escolar. Para a discussão teórica sobre concepções de linguagem, buscou-se aporte em Geraldi (1984), Britto (1991), Travaglia (1996), Castilho (1998) e Perfeito (2010). Para esses autores, existem três concepções básicas de linguagem: a linguagem como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como interação. Em Morais (2000), Pinto (2009), Cagliari (2010), Faraco (1994), buscou-se embasamento teórico relacionado ao ensino de Português de forma a não artificializar o uso que se faz da língua na escola. Confrontando as teorias estudadas com a prática de leitura e escrita desenvolvida na sala de aula, percebe-se que a artificialidade no uso da língua aparece em diversos momentos. Os dados aqui apresentados/analisados certamente não são suficientes para a realização de generalizações, mas são, ao menos, suficientes para a compreensão sobre o que acontece num determinado grupo, em determinadas condições de produção de discursos.