Armada de Dumbledore e brigada inquisitorial: totalitarismo e resistência em Harry Potter
Resumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre as estratégias discursivas de dois grupos da saga Harry Potter (HP), a Armada de Dumbledore e a Brigada Inquisitorial, representados por duas mulheres, Hermione Granger e Dolores Umbridge, como, respectivamente, porta-vozes, respectivamente, uma não-oficial da resistência e outra, oficial do Estado (semiotizado pelo Ministério da Magia). A partir do embate entre essas duas vozes sociais, considerar-se-á, alicerçados nos estudos teórico-metodológicos bakhtinianos, os conceitos de “signo ideológico”, “enunciado” e “forças centrífugas e centrípetas”, como fundamentos reflexivos acerca da responsividade e da responsabilidade de alunos face ao discurso ministerial, marcado pelo conservadorismo, típico de governos autoritários no grande tempo da história, personificado, na obra ficcional, por uma professora específica, intitulada “Alta Inquisidora”. A relevância da discussão proposta se volta à relação dialógica de reflexo, refração e dupla refração entre ficção e realidade, como compreendido pelo Círculo bakhtiniano, especialmente, sobre o quanto a literatura fantástica, com seu acabamento estético específico, se encontra alicerçada no solo social e se volta à vida, como expressão de marca histórica. Os resultados revelam o quanto a valoração pela resistência, pautada na determinação, é considerada “bem” e o totalitarismo, “mal”, na narrativa, além de fazer refletir sobre sistemas de governo e educação, dada a configuração cenográfica da obra como acontecimento e evento estético, onde se passam as ações (na escola de Hogwarts).