Populismo contra Populismo: uma análise pragmático-discursiva sobre a polémica verbal em artigos de opinião sobre a toxicodependência em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.21747/21833958/red12a10Palavras-chave:
Polémica Verbal, Análise do Discurso, Pragmática, Toxicodependência, PopulismoResumo
O presente artigo apresenta os resultados de um trabalho exploratório, cujo principal objetivo é analisar a construção da polémica verbal em artigos de opinião sobre a toxicodependência em Portugal. Assumindo que a polémica verbal tem como principal foco a desqualificação do adversário, e seguindo as perspetivas da Análise do Discurso, da Pragmática e dos Estudos sobre Argumentação, concluímos que os autores dos textos em análise, mais do que esgrimir argumentos que sustentem ou derrubem determinada ideia sobre a toxicodependência, concentraram a sua ação na descredibilização do seu adversário. Para tal, recorreram, fundamentalmente, a argumentos ad personam, mas também ad hominem, atacando a face do seu opositor. Complementarmente, a partir dos dados analisados, corroborámos a ideia de que o populismo - termo utilizado diversas vezes ao longo dos artigos de opinião e que faz parte de ambos os títulos - não tem uma definição consensual, ainda que pareça ser generalizada a crença de que tem uma conotação negativa, razão pela qual serve de ofensa ao adversário (independentemente do quadrante político). Por fim, vários são os traços de agressividade presentes nos artigos em análise, o que parece ser reforçado pelo facto de os mesmos estabelecerem uma relação dialógica clara, que parte de uma crítica.
Referências
Amossy, R. (1999a). Images de soi dans le discours. La construction de l’ethos. Delachaux et Niestlé.
Amossy, R. (1999b). The argument ad hominem in an interactional perspective. In Proceedings of the Forth International Conference on Argumentation. Amsterdam: Sic Sat, pp. 14-18.
Amossy, R. (2000b). Argumentation in Discourse: A Socio-discursive approach to arguments. OSSA Confe- rence Archive, 1. https://scholar.uwindsor.ca/ossaarchive/OSSA8/keynotes/1.
Amossy, R. (2009). The New Rhetoric’s inheritance. In Rhetoric and Discourse Analysis. Argumentation, 23, pp. 313-324.
Amossy, R. (2010). The Functions of Polemical Discourse in the Public Sphere. In Smith, M. & Warnick, B. (Org.). The Responsibilities of Rhetoric. Waveland Press, pp. 52-61.
Amossy, R. (2011). La coexistence dans le dissensus. La polémique dans les forums de discussion. In Semen. Revue de Sémio-Linguistique des Textes et Discours, Besançon, v. 31, pp. 25-42. http://www.journals.openedition.org
Amossy, R. (2014). Apologie de la polémique. Presses Universitaires de France.
Angenot, M. (2008). Dialogues de sourds: traité de rhétorique antilogique. Mille et Une Nuits.
Angenot, M. (2015). Novas proposições para o estudo da argumentação na vida social. In EID&A: Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, Ilhéus, v. 3, pp. 142-155. http://periodicos.uesc.br/index.php/eidea/article/view/413.
Bakhtine, M. M. (1992). Marxismo e Filosofia da Linguagem, 6a ed. Hucitec.
Balanbrón, P. (2004). Violencia y publicidad televisiva, De la violencia como recurso creativo a la publicidad como violencia. Universidad Católica de San Antonio.
Bousfield, D. (2008). Impoliteness in Interaction. John Benjamins.
Braz, A. C. (2017). A Ironia no Discurso Parlamentar Português: graus de implicitação, índices lin-guísticos e estratégias discursivas. Tese de Doutoramento em Estudos e Ciências da Língua Portuguesa, Brasileira e Lusófona Africana. Université Paris 8 - Vincennes - Saint Denis e em Ciências da Linguagem, Especialização em Análise do Discurso. Universidade do Minho.
Brown, P. & Levinson, S. (1978). Universals in language usage: politeness phenomena. In Goody, E. (ed.), Questions and Politeness: Strategies in Social Interaction. Cambridge University Press, pp. 56-289.
Burger, M. (2005). La complexité argumentative d’une séquence de débat politique médiatique. In Burger, M. & Guylaine, M. (Org.). Argumentation et communication dans les médias. Nota Bene. pp. 51-79.
Burger, M. (2008). Analyzing the Linguistic Dimension of Globalization in Media Communication: the Case of Insults and Violence in Debates. In Daniel, P. & Wyss, E. L. (org.). Media Linguistics from a Eu- ropean Perspective: Language Diversity and Medial Globalization in Europe. VALS / ASLA, pp. 127-150.
Burger, M. (2011). Une caractérisation praxéologique du désaccord polémique: ce qu’informer dans les médias veut dire. Semen. Revue de Sémio-Linguistique des Textes et Discours, Besançon, v. 31, pp. 61-80. www.journals.openedition.org
Calsamiglia, H. & Tusón, A. (2002). Las Cosas del Decir: Manual de Analisis del Discurso. Barcelona: Ariel Linguistica.
Casanova, I. (1990). Actos Ilocutórios Directivos: A Força do Poder ou o Poder da Persuasão. Tese de Doutoramento em Linguística. Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra.
Charaudeau, P. (1996). Para uma nova análise do discurso. In Carneiro, A. D. (Org.). O discurso da mídia. Oficina do autor, pp. 5-43.
Charaudeau, P. (1999). Análise do discurso: controvérsias e perspectivas. In Mari, H., Pires, S., Cruz, A., & Machado, I. (Orgs.). Fundamentos e dimensões da análise do discurso. Carol Borges, pp. 27-43.
Charaudeau, P. (2017). Le débat public. Entre controverse et polémique. Enjeu de vérité, enjeu de pouvoir. Lambert-Lucas.
Costa, J. F. (2021). Afinal, o que é o populismo? In FFMS. https://www.ffms.pt/blog/artigo/85/afinal-o-que-e-o-populismo.
Culpeper, J. (1996). Towards an anatomy of impoliteness. Journal of Pragmatics, n. 25, pp. 349-367. https://doi.org/10.1016/0378-2166(95)00014-3.
Culpeper, J. (2005). Impoliteness and Entertainment in the Television Quiz Show: The Weakest Link. Journal of Politeness Research, Language, Behaviour, Culture, n. 1, pp. 35-72.
Dascal, M. (2005). The balance of reason. In Vanderveken, D. (Org.). Logic, Thought and Action. Netherlands: Springer, pp. 27-48.
De la Torre, C. (2003). Masas, Pueblo y democracia: Un balance crítico de los debates sobre el nuevo populismo. Revista de Ciencia Política XXIII, 1, pp. 55-66.
Declercq, G. (2003). Avatars de l’argument ad hominem: éristique, sophistique, dialectique. In Declercq, G., Murat, M. & Dangel, J. Dangel (éds). La parole polémique. Champion, pp. 327-376.
Doury, M. (2012). Preaching to the Converted. Why Argue When Everyone Agrees? Argumentation, [S.l], v. 26, n. 1, pp. 99-114.
Duarte, I. M. (2005). Falar Claro a Mentir. In Dar a Palavra à Língua - Homenagem a Mário Vilela. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 291-299.
Ducrot, O. et al. (1980). Les mots du discours. Minuit.
Galito, M. S. (2017). Populismo. Conceptualização do Fenómeno. Working Paper CEsA CSG 158 / 2017. In ISEG. https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/14156.
Goffman, E. (1967). Interaction ritual. Pantheon Books.
Huang, Y. (2007). Pragmatics. Oxford University Press.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1980) La polémique et ses définitions. La parole polemique. Presses Universitaires de Lyon.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1986a). L’Implicite. Armand Colin, 2ème edition.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1986b). ‘Nouvelle communication’ et ‘analyse conversationnelle’. In Langue Française, vol. 70, n». 1, pp. 7-25.
Laclau, E. (1987). Populismo y transformación del imaginario político en América Latina. A Jorunal of Latin American na Caribbean Studies, 42, pp. 25-38.
Laclau, E. (2005). La Razón Populista. Fondo de Cultura Económica.
Laclau, E. (2006). La deriva populista y la centro izquierda latino-americana. In Nueva Sociedad, 205, pp. 57-65.
Lakoff, R. T. (1973). The logic of politeness: minding your p’s and q’s. In Corum, C., Smith-Stark, T. C. & Weiser, A. (Eds.). Paper from the 9th Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society. Chicago Linguistic Society, pp. 292-305.
Leech, G. (1983). Principles of Pragmatics. Longman.
Linde, P. (2021). Como Portugal se tornou referência mundial na regulação das drogas. In El País online. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/02/internacional/1556794358_113193.html.
Maingueneau, D. (1983). Sémantique de la polémique. Lausanne: Éditions l’Âge de l’Homme.
Maingueneau, D. (1984). Genèses du discours. Pierre Mardaga.
Ninitas, M. (2022a). (Des)Acordo Ortográfico. Análise Discursivo-Pragmática De Argumentos Populistas na Construção da Polémica Verbal Escrita sobre o Acordo Ortográfico de 1990. In Marques, M. A. et al. (Org.). Populismo(s) e suas linguagens. Textos Selecionados. CEHUM, pp. 173-196.
Ninitas, M. (2022b). (Des)Acordo Ortográfico. Análise discursivo-pragmática da polémica verbal em textos de opinião sobre o Acordo Ortográfico de 1990. Tese de Doutoramento em Estudos Portugueses - Linguística Portuguesa. Universidade Aberta.
Norrick, N. R. (1978). Expressive illocutionary acts. In Journal of Pragmatics, v.2 (3), pp. 277-291.
Oléron, P. (1995). Sur l’argumentation polémique. In Hermès, 16, pp. 15-27.
Plantin, C. (1980). Nominations. La constitution des rôles dans le dialogue. Pragmatics, 9, pp. 241-260.
Plantin, C. (1995). Fonctions du tiers. In Kerbrat-Orecchioni, C. & Plantin, C. (Org.), Le Trilogue. PUL, pp. 108-133.
Plantin, C. (2016). Dictionnaire de l’argumentation. Une introduction aux études d’argumentation. ENS Éditions.
Rodrigues, M. C. C. (1998). A sequência discursiva pergunta resposta. In Fonseca, J. (Org.), A Organização e o Funcionamento dos Discursos, Estudos sobre o Actos Ilocutórios Expressivos em Português. Tomo II. Porto Editora, pp. 11-222.
Rodrigues, S. V. (2008). Estrutura e funcionamento da interacção verbal polémica. Contributo para o estudo da polemicidade em Camilo Castelo Branco. Tese Doutoramento em Linguística. Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
Rodrigues, M. G. S. (2021). Ponto de vista emocionado no gênero discursivo comentário on-line – violência verbal. Linha D’Água, v. 34 (1), pp. 13-28. https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v34i1p13-28.
Seara, I. R. (dir. e coord.) (2014). Cortesia: olhares e (re)invenções. Chiado Editora.
Seara, I. R. (2017). Contributo para o estudo da (des)cortesia verbal: estratégias de atenuação e de intensificação nas interações. In Cabral, A. L., Seara, I. R. & Guaranha, M. F., Descortesia e Cortesia. Expressão de Culturas. Cortez Editora, pp. 233-265.
Searle, J. (1969). Speech Acts: An Essay in the Philosophy of Language. Cambridge University Press.
Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e das Dependências. https://www.sicad. pt/.
Sousa, G. (2023). Aumento Preocupante do Consumo de Drogas Pesadas em Portugal. In Blog Tecniquitel. https://blogtecniquitel.com/drogas-pesadas-em-portugal/
van Dijk, T. (2005). Contextual knowledge management in discourse production: a CDA perspective. In Wodak, R.& Chilton, P. (Orgs.) A New Agenda in (Critical) Discourse Analysis: Theory, methodology and interdisciplinarity. Universitat Pompeu Fabra. pp. 71-100.
Vasconcelos, C. (2000). Breve história das terapêuticas de substituição em Portugal: conclusões principais. In Revista Toxicodependências, vol. 6, n° 2. Edições SPTT, pp. 67-79.
Walton. D. (1990). Types de dialogue et glissements dialectiques en argumentation. In Meyer, M. & Lemperereur, A. (Orgs.), Figures et conflits rhétoriques. Éditions de l’Université.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 Mariana Silva Ninitas

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Os autores cedem à REDIS: Revista de Estudos do Discurso, o direito exclusivo de publicação dos seus textos, sob qualquer meio, incluindo a sua reprodução e venda em suporte papel ou digital, bem como a sua disponibilização em regime de livre acesso em bases de dados.